sábado, 20 de outubro de 2012

PERFIL DO AUTOR - J. Modesto



PERFIL DO AUTOR
OUTUBRO/2012


 










 


 J . MODESTO



             J. Modesto é paulistano. Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, é apaixonado por literatura desde a adolescencia. Fã de Historias em Quadrinhos (HQ) e cinema, seu estilo de escrita deixa transparecer muito os traços dessas suas influências. Iniciou sua incursão pelo universo da escrita, mais precisamente na Literatura Fantástica – Terror, oficialmente em 2006, quando publicou seu livro de estréia TREVAS. Desde então, vem produzindo incessantemente. Foi, juntamente com Martha Argel e Ednei Procópio o idealizador da coletânea AMOR VAMPIRO (2008), marco da Literatura Fantástica Nacional, premiada com o Prêmio CODEX de OURO de 2011 como melhor antologia em conjunto. Seu livro de maior destaque é Trevas.
            Além de escritor, divide seu tempo com suas outras paixões: cinema, desenho e culinária. Também é um dos idealizadores e fundadores do FONTES DA FICÇÃO, administrando o site e os famosos Encontros do Fontes até o final de 2010, quando o mesmo iniciou uma reestruturação, trocando de administradores. Atualmente é um dos colaboradores do site.

  BIBLIOGRAFIA

                J. Modesto possui a seguinte bibliografia:

                Ficção

            Trevas (2006)
            Anhangá – A Fúria do Demônio (2008)
            Vampiro de Schopenhauer (2012)

Coletâneas
            Amor Vampiro (2008)
            Anjos Rebeldes (2011) 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

PERFIL DO AUTOR - CONTO - Nelson Magrini

SETEMBRO 2012 - NELSON MAGRINI




Era sempre assim, não importava o dia da semana ou a época do ano, fizesse calor ou muito frio. Também não importava quem eram aquelas pessoas ou suas idades. A noite mal começara e já fervilhava na grande cidade, fosse aqui ou em um distante lugar do mundo, e fora raras exceções, todos buscavam as mesmas duas coisas, os dois desejos mais perseguidos e, ao mesmo tempo, fáceis e banais, diversão e sexo.
No jargão do comportamento humano, sexo poderia abranger desde um beijo fortuito, roubado de modo insuspeito, ou uma mão que passeava e avançava com mais ousadia e ímpeto, às vias de fato, e era esse êxtase da procura que motivava e agitava as pessoas, de maneira consciente ou não.
Já diversão podia ser compreendida como um termo mais amplo e, em muitos casos, envolvia o próprio sexo. E lugares propícios a qualquer tipo de diversão não faltavam. Baladas, casas da moda, restaurantes clássicos ou exóticos, lugares requintados ou rústicos, para todos os gostos e padrão social. Nesse sentido, a noite na metrópole era viva e se agitava como um animal selvagem, com fogo nas entranhas e sede de movimento ininterrupto.
E nessa mescla de pessoas e tribos, cada qual possuía seus próprios caminhos e cantos, alguns espetacularmente iluminados e chamativos, enquanto outros, escuros, sombrios e escondidos.
Todavia, existiam aqueles que não se contentavam com variedade e, julgando-se especiais, se autoproclamavam descolados, indivíduos que, sabe-se lá por que, era invejados por muitos, em suas atitudes, modismos e posturas. Apesar de tal adoração silenciosa, tais pessoas procuravam recantos de exclusividade como alternativa à massa de consumo e sabiam de espaços diferentes, sem luzes chamativas por fora ou letreiros que brilhavam. E de todos esses lugares, o mais alternativo era conhecido por La Macchina.
Construído dentro de um antigo galpão de fábrica, com sua aparência exterior feia e suja mantida inalterada, era isolado acusticamente e não possuía letreiro ou qualquer outra forma de identificação. A propaganda à boca miúda dava o tom de exclusividade. Também não se formavam filas. Assim que a capacidade da casa se completava, independente da hora, a porta externa era fechada e trancada, até porque as pessoas presentes só deixariam o local quando com a manhã já avançando, e nada do lado de fora denunciava o quê ali se passava. Basicamente frequentada por jovens, era um meio termo entre o requinte e o rústico, e comportava frequentadores das mais diversas classes sociais.
Talvez tenha sido essa mescla de tipos que o atraiu; talvez, apenas o puro acaso, ninguém nunca saberá.
O som marcante, martelado nas batidas eletrônicas, ecoava forte na pista agitada quando a porta interna, em uma parte mais isolada do recinto, junto aos caixas e à saída, se abriu de modo inesperado. Dois seguranças, de pronto, se posicionaram à frente de um desconhecido que entrara, ambos tomados de surpresa, querendo compreender como ele ingressara depois que a casa havia sido trancada, mas de súbito, como que encantados com o que viam, lhe abriram passagem, quase lhe fazendo uma reverência, inesperadamente surdos para todo o demais.
O estranho vestia uma túnica branca, que lhe cobria o corpo como um todo, somado a um par de sandálias douradas, a mesma cor do cordão que lhe estreitava a veste à cintura.
Sem demonstrar qualquer incômodo com o som alto e as luzes coloridas, fortes e brilhantes, ele se infiltrou no meio da multidão, sequer se dando atenção de que, um a um, os frequentadores deixavam de fazer o que faziam e lhe abriam passagem, passando a admirá-lo, sem perceberem que à medida que o desconhecido se aproximava do centro da pista, a música ia diminuindo cada vez mais, como guiada por dedos mágicos de um DJ fantasma, até cessar por completo.
No entanto, por mais que o observavam, era impossível para qualquer um descrevê-lo. Certamente, não era um homem travestido de mulher, o mesmo se dando em relação a uma mulher com roupas de homem. Aquele ser trazia uma mescla categoricamente singular de masculino e feminino em um único corpo, uma amálgama das características de ambos os sexos.
Sem esboçar qualquer palavra, absoluto no silêncio que agora imperava, puxou uma garota para si, estreitando-a contra o corpo, e a beijou na boca, um beijo lânguido e demorado. Em seguida, fez o mesmo com um rapaz próximo.
Quando desatou o cordão e deixou a túnica cair, revelou um par de asas brancas e altivas e, ainda assim, ninguém estranhou, todos tomados por um fascínio que não os fazia desgrudar os olhos daquele verdadeiro ser celestial.