Num momento em que se tem notícias de fusões de editoras, compra e parcerias de outras, o anúncio da chegada da gigante Amazon ao Brasil e a realização de uma Bienal Internacional do Livro de São Paulo no mesmo formato incipiente das últimas edições, me pus a refletir sobre o futuro da Literatura Fantástica Brasileira (LitFanBr).
Ainda entusiasmado com a movimentação em torna da Bienal, compareci ao maior evento literário da América Latina, na busca de algo diferente e motivador para um leitor voraz e exigente como eu, o que acabou se mostrando algo inútil.
Ao chegar no Anhembi, deparei-me com uma fila gigantesca para acessar ao estacionamento do complexo, fazendo com que perdesse mais de 30 minutos somente para chegar as catracas e ser literalmente assaltado em R$ 40,00 por uma vaga para meu carro.
Depois de superar esse primeiro obstáculo, comprar o ingresso e adentrar ao evento, encontrei um volume exagerado de pessoas circulando pelos corredores, o que, apesar de incomodo, confesso que me entusiasmou, afinal ver um evento daquele tipo com aquela movimentação me levava a acreditar que o brasileiro começava a redescobrir o gosto pela leitura. Ledo engano.
A grande quantidade de pessoas ali presentes, na sua maioria jovens e adolescentes, estavam buscando seus ídolos, os "estrangeiros da moda", em especial Cassandra Clare, autora dos livros da série Instrumentos Mortais.
Foi então que me perguntei: Cadê nossos autores de Literatura Fantástica? Onde estão André Vianco, Nelson Magrini, J. Modesto, Martha Argel e Giulia Moon, dentre outros?
Com tais questionamentos martelando em minha cabeça, dirigi-me a estande da editora do maior ícone de nossa LitFan, a Novo Século, e o que encontrei me deixou ainda mais decepcionado e pessimista.
Por toda parte em que olhava eu me deparei com livros de autores "estrangeiros da moda", muitos deles responsáveis por séries descartáveis a la Crepúsculo. Era bem verdade que havia um espaço dedicado aos livros de Vianco - embora longe do destaque de outrora - e à coleção "Talentos", a antiga e famigerada "Novos Talentos da Literatura Brasileira", onde a qualidade da maioria das obras é questionável.
Nelson Magrini, outro autor da editora, não tinha um exemplar sequer de seus livros no estande.
J. Modesto, que mais tarde acabei sabendo através do próprio, não tinha qualquer tipo de participação agendada para a Bienal, pois sua atual editora, a LIVRUS decidira não ir a Bienal devido aos valores inacessíveis cobrados por um espaço no evento.
Martha Argel, segundo apurei, está envolvida com um projeto de sua cadeira de Ornitóloga e Giulia Moon estava no evento lançando seu mais novo livro, embora não a encontrei.
Outros nomes de peso da LitFanBr, tais como Eduardo Spohr e Raphael Dracon, poderiam ser comentados aqui, mas serviriam apenas para reforçar minha visão pessimista com que deixei o Anhembi.
As noticias que se avolumam - aquelas que mencionei no inicio desta matéria - somente servem para comprovar que a Literatura Fantástica Brasileira está agonizando, esperando pelo golpe de misericórdia, que não tardará a vir. Valorização de autores estrangeiros - muitos deles de qualidade questionável - em detrimento aos nacionais, falta de investimento em nossos talentos - os verdadeiros -, publicação de antologias e coletâneas com clara intensão de buscar lucro a qualquer custo, em detrimento da qualidade, falta de profissionalismo por parte de alguns editores e autores, distribuição deficitária, preconceito do leitor em relação aos autores nacionais - e muitas vezes por causa da má fama gerada pelos outros eventos anteriormente mencionada neste texto - e falta de profissionais devidamente capacitados (Capistas, revisores, diagramadores, etc), são alguns dos "venenos" que vem aniquilando de forma lenta e dolorosa, a LitFanBr.
Num evento que é considerado o maior evento literário da América Latina, no meu ponto de vista é inconcebível que a Câmara Brasileira do Livro - CBL, organizadora da Bienal, tenha deixado de convidar um dos autores brasileiro de maior sucesso no mundo. Mesmo não sendo apreciador da literatura deste senhor, é inegável que Paulo Coelho contribuiria muito para o evento. Levar anualmente Ziraldo e Mauricio de Souza, carteirinhas carimbadas da Bienal, reservado aos dois o devido respeito que merecem, não acrescenta nada. É necessário renovar. Renovar a forma de pensar dos profissionais do setor, renovar os autores, buscar novos talentos, investir em nossa literatura e levar ao mundo novos ícones de nosso país. Paulo Coelho é um desses ícones, admirado e aplaudido em todo o mundo. Por quanto tempo seremos obrigados a paparicar escritores enlatados, enviados goela a baixo pelo marketing do mercado, dos quais muitos são de qualidade duvidosa ou descartáveis?
Espero que não por muito tempo, pois aguardo ansiosamente o dia em que autores como André Vianco, J. Modesto, Nelson Magrini e Eduardo Spohr se juntem a Paulo Coelho como vitrine e baluarte de nossa produção literária.
Por: L. H. Hoffmann
Um comentário:
Poxa, se você soubesse antes, eu estava lançando naquele sábado em que você foi, o meu primeiro livro solo de terror, intitulado "Análise Mortal". Concordo contigo, a Bienal precisa mudar o formato e, principalmente o lugar de realização, já que o Anhembi não tem infraestrutura adequada. O resta para nós, escritores de fantasia nacionais, é o Fantasticon, que também já agoniza pela superlotação provocada pela quantidade crescente de pessoas que tem ido todos os anos ao evento.
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