Muitas pessoas, advogados, leitores e até
escritores, me questionam como escrever um bom livro, e sempre acabo contando
um pouco de minha experiência com a escrita. Por incrível que pareça, na minha
juventude era um aluno sofrível em “Português”, mas excelente em “Matemática”.
Então, a lógica era que me tornasse um Matemático, Engenheiro ou Físico, mas
não, acabei me tornando Arquiteto e Escritor. É nessa incoerência que acabei
descobrindo a minha resposta para a pergunta do título. Digo minha, porque pode
haver outras, mas certamente todas passaram por algumas regras básicas.
Comentaremos a seguir as mais significativas, que entendo ser importante na
busca de um texto com qualidade, seja na forme de conta, romance ou
simplesmente numa receita de bolo. Vamos lá?
1 – OBJETIVIDADE
Antes de mais nada, devemos lembrar que um texto
tem um objetivo: passar uma mensagem, independentemente do seu tamanho ou tipo
de narrativa. E para que ele atinja seu objetivo, deve ser claro ao transmitir
sua “mensagem”. Atenção, “claro” não significa necessariamente ser “simples”.
Então como atingir o ponto ideal. Isso é algo simples, porem trabalhoso. A
objetividade em sua narrativa vira depois de muita escrita e, principalmente,
leitura. Ler bons textos treina a mente e o ouvido para isso. Comece escrevendo
textos descritivos, depois os desenvolva até chegar ao nível que considere bom.
Então comece a prestar atenção nos seus leitores e “ouça” suas críticas, pois o
seu conceito de “Bom” nunca está perto do leitor, pois existem diferentes níveis
de interlocutores, quer do ponto de vista cultural, educacional ou intelectual.
Não tente agradar a todos, pois isso é impossível, busque atingir o maior
numero de “leitores”, fazendo-os entender e vivenciar o que esta narrando em
seus textos. Se conseguir isso, terá metade do caminho percorrido.
Muitos escritores gostam não vão diretos ao assunto
e acabam por deixar o leitor perdido, acabando com o interesse pelo texto.
Frases desnecessárias e que não acrescentem nada a narrativa são
desnecessárias. Pesquisas revelam que se a história não prendeu o leitor,
transportando-o para o mundo imaginário de sua obra, nas dez primeiras páginas,
as chances de perdê-lo é enorme. Os editores geralmente solicitam o primeiro
capítulo para analisar novas obras. Se o texto prender sua atenção, solicita a
obra interia para uma melhor analise. Viu como um bom texto é importante?
Os chamados Prólogos são importantes. Se não houver
prólogo, o primeiro capítulo faz essa função, então capriche. Ele deve ser
sempre uma mistura de introdução, com um “gancho” que atice a curiosidade do
leitor, estimulando-o a continuar em frente. Aplique-se no prólogo ou primeiro
capitulo e a probabilidade de seus leitores lerem o seu texto até ao fim irá
aumentar, mas é óbvio que você deverá manter a qualidade e o interesse do
leitor, o que o levará a descobrir que sua obra deverá ser composta de “n”
primeiros capítulos.
2 – SEQUENCIA
Embora ela esteja dividida em capítulos, pense na
sua narrativa como uma construção só. Ele tem que ter um inicio, meio e fim.
Portanto, terá que equilibrar a lógica com o fato de ter que ser direto. Mas
como fazer isso? Vamos tentar uma lista de alguns procedimentos que poderá
auxilia-lo nessa tarefa.
a)
Comece a
narrativa introduzindo os personagens principais e uma breve descrição, tanto
física como psicológica, mas de preferência dilua algumas dessas informações
durante toda a narrativa, ou parte dela. Os leitores de hoje não gostam de
textos demasiadamente descritivos. Descarte informações que são irrelevantes
para a história.
b)
Comece a
desenvolver a narrativa, apresentando os problemas a serem resolvidos de forma
que o leitor se interesse e queira buscar a solução para eles junto com o
personagem principal.
c)
Apresente
soluções inovadoras e surpreendentes, mas lembre-se, o leitor não é burro. Tais
soluções tem que ser coerentes com o que foi apresentado em sua narrativa. Não
venha com saídas mágicas. Se seu personagem está preso numa caixa, acorrentado,
no fundo do rio, e ele não tiver super poderes, sua fuga deve ter uma
explicação coerente.
d)
Trabalhe o
clímax de sua história com afinco, levando em consideração todas as “dicas”
anteriores, lembrando-se que as consequências também devem ser coerentes. Um
ser humano normal lutando contra um demônio super poderoso certamente não saíra
ileso de tal confronte, então é importante que as consequências sejam tratadas
de forma coerente e com respeito a inteligência de seu leitor.
e)
Conclua a
narrativa fechando todos os pontos em aberto. Mesmo que tenha uma continuação,
é importante que as questões levantadas naquela narrativa seja respondidas ou
então o leitor terá a impressão de que foi enganado. Isso não impede que você
inclua um “gancho” para o volume dois, mas esse artifício deve ser algo que,
apesar de ter certa ligação com os personagens, não está intimamente ligada a
narrativa que se encerrou. Quer um exemplo? Certo!
“Numa narrativa o personagem
principal derrotou um demônio poderoso após um confronto que quase levou-o a
morte. Semanas depois, enquanto se recuperava, um amigo a muito desaparecido
chega para visitá-lo. Os dois conversam por um longo tempo e, num momento em
que o herói se distrai, e sem que ele perceba, um pequeno lampejo amarelado
surge nos olhos do amigo, dando-lhes a aparência semelhante aos olhos do demônio
derrotado.”
Viu? Você incluiu um gancho para o segundo
volume, que pode ser explorado de diversas formas, como, “o retorno do demônio”,
ou a presença de “outro demônio”.
Seguir uma lógica é importante para que os seus
leitores se habituem a um estilo de escrita. Trabalhe de forma organizada para
não se perder. Faça fichários de personagens, se necessário.
3 – GRAMÁTICA
Você não precisa sem nenhum professor Pascoali para
escrever, pois existem revisores que irão deixar seu texto perfeito para
publicação de sua obra, mas é importante que você conheça o máximo que puder de
sua língua, então se aperfeiçoe sempre. Utilize o corretor ortográfico, mas lembre-se
que até ele erra. Quanto mais domínio da língua e de suas regras, bem como um
vocabulário considerável, melhor será seu texto.
4 –
REVISÃO
Revise seu texto varias vezes, e quando não encontrar
mais falhas, peça a uma pessoa com um bom conhecimento de português, e que
goste de ler, que o revise para você. A revisão da narrativa é tão importante
quanto a gramatical. O texto pode estar corretíssimo, mas pode haver erros de
continuidade que comprometam a historia e que certamente passara despercebido
por você, pois seu cérebro, depois de muito trabalhar no texto, irá ignorar
tais “falhas”. Por isso o papel do “leitor Beta” é muito importante.
5 –
LEITOR BETA
O leitor Beta é aquela pessoa que irá ler seu texto
de forma critica, lhe dando informações importantíssimas para sua melhoria. O
Leitor Beta deve ser imparcial, e com coragem para lhe dizer o que está errado
ou certo em seu texto. Amigos ou parentes que vão elogiar o trabalho somente
porque é você que fez, não querendo magoá-lo não são leitores Betas, mas “balujadores”.
Não tenha medo de criticas. Não se ofenda com elas, mesmo que as achar
injustas. Analise-as com cuidado e busque informações importantes sobre suas
falhas, utilizando esse “feedback” gratuito para desenvolver ainda mais seu
texto.
6 –
DESENVOLVIMENTO CONTINUO
Existem livros que ajudam a melhorar a escrita, as técnicas
de narrativa, a gramática, a interpretação de textos, a leitura e tantos outros
aspectos que compõem um bom escritor, então continue se desenvolvendo SEMPRE. Pratique
todos os dias várias horas por dia, leia textos dos melhores escritores e veja
como eles trabalham. Tente “copiar” o estilo dos autores mais renomados e de
sua preferência, para melhorar seu próprio estilo. Atenção, não estou dizendo
para “plagiarem” as obras desses autores, estou dizendo para escreverem suas próprias
histórias no “estilo” desses autores. Cedo ou tarde você irá desenvolver seu próprio
estilo. Varie seus leitores Betas e procure sempre os mais exigentes.
Organize-se para escrever, reservando local e hora para isso. Releia o que
escreveu quantas vezes for necessário e, o mais importante, não tenha medo de
criticas. Transforme um limão numa limonada. Criticas, se bem aproveitadas, não
irão de enfraquecer, mas o transformarão num super-homem da escrita.
Para alto
e avante!
Texto: J. Modeto - Escritor
Um comentário:
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