segunda-feira, 24 de março de 2014

VOCÊ QUER SER ESCRITOR? – Parte 3


A EVOLUÇÃO DO AUTOR.
Por J. Modesto  

            Antes de iniciarmos a discussão sobre o processo de criação e publicação de uma obra, faz-se necessário preparar o terreno para que se tenha uma clara visão do que deve ser um autor completo. Muitos que se aventuram na tarefa de escrever um livro não têm a mínima ideia no que está se metendo, acreditando que tudo se resume na tarefa de escrever uma “historinha” de várias páginas – mais de 150 de preferência – e entregar a uma editora para publicá-la, distribuindo várias dedicatórias e autógrafos na noite de lançamento, em uma livraria qualquer. Ledo engano; e este tópico tem como missão, apagar tal conceito equivocado.
            Se você pensa como acabei de descrever acima, espero que reveja seus conceitos. Se isso não acontecer, sugiro que desista da empreitada, que só o levará a muito trabalho e várias decepções.
            Mas como tomar a decisão certa?
            Acredito que não existam escolhas erradas, apenas aquelas que lhe trará maior ou menor realização. Se você se preparar para elas, certamente irá aumentar consideravelmente suas chances de sucesso, então vamos ao que interessa.
            O que ouço constantemente de leitores, candidatos e “escritores” e até pessoas que já possuem livros publicados, e que buscam seu lugar no cenário literário nacional, é que só se precisa saber ler e escrever para ser um escritor. O que posso dizer é que essas pessoas estão completamente CERTAS.
            Mas como? Poderia me perguntar alguém mais antenado com o assunto e a explicação é muito simples.
Quando você escreve uma simples carta de amor para a namorada ou para um familiar distante, você é um escritor. Quando elabora um relatório, um trabalho escolar ou uma receita qualquer, você é um escritor. E todas essas tarefas que mencionei necessitam que ingredientes básicos como ter um conhecimento mínimo da língua e razoável raciocínio lógico. Isso não quer dizer que não existam tarefas de escrita que exija um maior conhecimento, mas tais exigências existem em várias atividades de diferentes ramos de atuação. Um pedreiro não poderá realizar o trabalho de um telhadista sem adquirir um conhecimento mínimo sobre o assunto, apesar de saber o que é uma telha, uma ripa ou um caibro. Quanto maior o conhecimento que o escritor detiver sobre a língua a ser utilizada, melhor será o trabalho realizado. É aí que aqueles que planejam percorrer a senda literária, mesmo sabendo que no final da estrada podem não encontrar seus desejos realizados, devem conhecer no mínimo as fases evolutivas desse caminho de muito trabalho e algumas alegrias pessoais, esperando também que se encontre a realização financeira e fama, tão desejada por muitos. Então vamos lá!

O candidato a autor começa sua jornada como todo e qualquer mortal, com sua alfabetização. Nessa fase, ele não tem noção nenhuma do que quer. Tudo é novidade e o interesse terá a proporção do incentivo que receber nesse período, quer de seus pais, amigos, parentes e professores. Nesse momento, ele não tem o domínio de seu destino, dependendo grandemente das pessoas que acabo de mencionar.
Existe um ditado que diz: “Em casa de pais leitores, filhos leitores”. Isso não serve só para “leitores”, mas para tudo na vida. A criança inicia a vida copiando tudo o que vê, e os pais e professores são suas maiores referências. Não é a toa que um garoto que nasce numa casa onde o pai torce para o Corinthians, muito provavelmente se tornara um corinthiano em decorrência da forte influencia do seu genitor, que deseja ter o filho torcendo para o seu time de coração. Isso funciona com quase tudo, até a idade que a criança adquira conhecimento e autonomia necessária para decidir o que quer. Então, se pais e professores estimularem os pequeninos a escrever e ler, mais eles o farão, alcançando um desenvolvimento pessoal que certamente fará a diferença no futuro, mas cuidado. Lembre-se. Existe uma enoooorme diferença entre incentivar e obrigar.
Passada a fase de alfabetização, quando a criança já adquiriu uma capacidade razoável de escrita, inicia-se a fase de adquirir o gosto pela leitura, mas tal fase pode começar mesmo antes da criança saber ler ou escrever, ouvindo histórias de livros indicados para a sua idade, com figuras coloridas e escritos curtos e objetivos. Aqui os pais e professores também têm uma grande responsabilidade.
Concluídas tais etapas, o escritor básico está formado e se desenvolverá até o nível que desejar, passando por experiências importantes, principalmente na escola, onde as aulas de Língua Portuguesa e redações diversas, além da leitura de livros, aprimorarão seu conhecimento até agregar a sua formação básica o título de “leitor”.
Mas o que ler tem a ver com o desenvolver da escrita? Muita coisa. Grandes e bons escritores foram e são contumazes leitores. Ler livros de boa qualidade e de autores reconhecidamente cuidadosos com o que escrevem contribui muito para o aprimoramento do vocabulário e conhecimento das regras gramaticais até sem as conhecê-las direito.
Como assim?
Vamos utilizar como exemplo um erro muito comum em nossa língua. Muitas pessoas ao falarem se utilizam de frases construídas de forma errada, principalmente pelo uso comum em seu meio de convívio. Veja o exemplo abaixo. 

“Gostaria que você me emprestasse a sua batedeira pra mim fazer um bolo de chocolate!” 

Segundo a regra gramatical, mim não pode ser seguido de um verbo, mas certamente você encontrará pessoas utilizando a construção acima com frequência, em especial aquelas que não tiveram acesso a uma educação de qualidade.
Se seguirmos a regra, a frase ficaria assim: 

“Gostaria que você me emprestasse a sua batedeira pra eu fazer um bolo de chocolate!” 

Agora, suponhamos que você não conheça a regra citada, mas é um assíduo leitor de livros de qualidade, certamente notará que há algo estranho na frase e a forma correta, gravada no seu subconsciente, virá à tona. Então, a leitura faz diferença sim.
Mas não custa lembrar mais uma vez que incentivar não é obrigar, então não tente forçar a criança a ler livros que você acha que são importantes por conter informações essenciais para seu futuro, preocupe-se em criar o gosto pela leitura que, no momento certo, ela mesma irá atrás das informações que precisar. A melhor forma de se iniciar os pequeninos no fantástico mundo da literatura chama-se Histórias em Quadrinhos, ou HQ, se preferir. Então dê gibis para as crianças e, se elas ainda não souberem ler, leia para elas. Certamente você também irá se divertir e estreitará os laços afetivos com os pequeninos.
           Ao dominar a escrita e ler com frequência, você se transformará num escritor completo. Veja que utilizei o termo “Escritor Completo” e não “Escritor Perfeito”, pois esse último não existe. Ninguém domina todas as regras da língua ou conhece tudo que é necessário para se tornar perfeito. É por isso que existem os revisores, diagramadores, editores e capistas, que buscarão tornar sua obra perfeita nos diversos quesitos, entregando ao publico um produto de qualidade. Mesmo assim, erros ocorrerão, então se isso acontecer, aja com naturalidade e busque corrigi-los nas edições seguintes.
Se existem tais profissionais que cuidarão desses detalhes, porque preciso disso tudo para escrever um livro? Não poderia apenas ditar e alguém escrevê-lo para mim?
Existem autores que não gostam ou não tem tempo para escrever e para isso contratam um profissional que escuta a sua história e passa para o papel, realizando a tarefa da escrita, enquanto que o autor fica com a tarefa intelectual. A esse profissional dar-se o nome de Ghost writer. Então nada impede que outra pessoa escreva o livro que você irá ditar, mas no meu ponto de vista, se você quer algo bem feito e com qualidade, é necessário que saiba fazer para saber cobrar. Seu objetivo é se tornar um escritor completo? Então se prepare para isso.
Mas vamos retomar nossa linha de raciocínio.
O desenvolvimento do escritor ocorre junto com o crescimento do leitor. Quanto mais você ler melhor será sua escrita, pois desenvolverá novas técnicas, conhecerá vários estilos e ampliará consideravelmente seu vocabulário, um dos itens mais importantes quando se quer escrever com qualidade.
Cursos para melhorar a escrita também são sempre bem vindos, por isso não pare de estudar e se aprimorar nunca. Pronto, se você seguir essa pequena receita, certamente será um grande escritor.
Mas espera aí. O tópico que estamos tratando não é sobre a evolução do autor?
É verdade, mas sem o escritor, não haverá autor, ou melhor, ele jamais será conhecido por seu público como deveria. O autor é aquele que cria. É da imaginação do autor que surgem as histórias mirabolantes, dos heróis destemidos e dos vilões inesquecíveis. Todos nós, em determinado momento já imaginamos histórias fantásticas, especialmente em nossa infância, pois as crianças possuem uma mente fértil para a criação e a fantasia. Contudo, com o desenvolvimento do seu lado racional, muitos tem essa capacidade de imaginar diminuída. Mas, por sorte, temos aqueles que mantêm, ou até aumentam, tal capacidade. São eles os inventores, os artistas, os roteiristas, os cineastas, os pintores, os desbravadores e tantos outros, dentre os quais se encontram os autores.
Dominar as técnicas de escrita e ser um bom escritor, certamente irá ajudá-lo a se tornar um bom autor, mas você não conseguirá transpor a fase de “escritor”, se não tiver imaginação. Então trabalhe sua criatividade. Retorno a infância e não tenha vergonha de sonhar. As maiores realizações da humanidade foram alicerçadas nos sonhos de seus realizadores.
Então, mãos a obra.
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J. MODESTO – é autor de Literatura fantástica, com vários livros publicados e participação em coletâneas com outros autores. É, hoje, um dos ícones da Literatura Fantástica Brasileira.

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