Matheus
corria ofegante pela floresta, se é que podia chamar aquilo de
floresta. Suas pernas doíam, já não obedeciam aos seus comandos.
Faltava-lhe ar. Sentia pontadas nos pulmões, acreditava que a qualquer
momento cairia sem fôlego e não conseguiria mais correr. O coração
estava tão acelerado que perecia sair pela boca.
– Meu .. Deus … o que são essas … coisas … o que elas querem de mim? – Falava a si mesmo,
com muita dificuldade, virando a cabeça para os lados, tentando ver
alguma coisa à sua retaguarda. Tropeçou em um galho seco, indo direto ao
chão acinzentado.
– Onde eu … estou … socorro … socorro! – Os gritos não saiam.
Levantou-se
e tentou correr, mas era impossível. As grandes árvores sem folhas e de
troncos negros pareciam interromper a passagem, formando um grande
labirinto, fazendo o jovem desviar o caminho da corrida a todo momento. Ouviu o bater das asas de seus algozes. Eles se aproximavam.
– Socorro … socorro! – Tentou novamente gritar, mas foi em vão. Sua voz saia cada vez mais fraca. Caminhou cambaleante até alguns troncos maiores, que jaziam no chão. Deixou o corpo escorregar, até desfalecer naquela terra escura e fétida.
– Não… não … não pode .. ser. Como … vim parar … aqui … como?
Sua visão ficou turva;
o céu enegrecido parecia ficar cada vez mais escuro. Deixou a cabeça se
chocar contra o chão. Ouvia as criaturas chegando, emitindo sons muito
estranhos, hora parecendo gritos, hora uivos. Podia ver os clarões
rubros no céu, trovões talvez, ou não. Não sentia mais os membros
inferiores, devido à corrida desenfreada. Sua cabeça girava como se
tivesse em um daqueles brinquedos do parque de diversões. A voz calou-se
de vez. Mal conseguia abrir a boca. Já esperava pelo fim. Desistia de
lutar pela sobrevivência. Não podia mais. Tinha sido vencido pelo
próprio corpo.
–
Levante-se garoto! Levante-se! – Uma bela voz feminina ecoava em seus
ouvidos, tirando-o momentaneamente de seu estado de quase torpor.
Levante-se! Era só o que aquela voz repetia.
Com
muita dificuldade, conseguiu se levantar. Apoiou o braço esquerdo em um
dos troncos e firmou os pés. Olhou para o caminho de onde veio. Seu
corpo gelou. Ficou estacado no lugar quando avistou seus perseguidores.
Eram imensas aquelas criaturas. Grandes panteras negras, com olhos
vermelhos e asas de morcego. Gigantescas asas de morcego. Babavam uma
espécie de gosma esverdeada, que formavam pequenos buracos quando
encontravam o chão, uma substância corrosiva, ácida, mortal. Elas vinham
com extrema velocidade e agilidade, não haveria mais chances de correr.
Algo dentro dele o impedia de sair do lugar.
– Meu Deus …
As
criaturas aproximaram-se com vôos rasantes. Matheus sentiu o cheiro
fétido, que veio junto ao bater de asas, daqueles seres. O vento
provocado por tal movimento levou o jovem novamente ao chão. Elas
pararam em pleno ar.
O
pânico e o terror tomaram conta do garoto. Ele olhava aqueles seres
infernais. Queria gritar. Fechou os olhos. Não sabia mais o que fazer.
Não conseguia mais raciocinar. Achava que tais criaturas só existiam em filmes. Mas agora, estavam de frente pra ele.
Começou
a rezar. Nunca fora religioso. Não acreditava em Deus, zombava de suas
irmãs que freqüentavam a igreja. Nunca acreditou … até agora!
Elas
pousaram a sua frente. De tão grandes, pareciam estar sobre ele.
Pressentiu o fim. Sabia que a qualquer momento elas atacariam e o fariam
em pedaços. Tentou
levantar-se devagar, mas foi impedido com um golpe certeiro no peito,
desferido por uma das criaturas. A força empregada pela pata daquele
bicho fora descomunal. Matheus sentiu seus ossos quebrarem. O grito
finalmente saiu, mas agora foi um grito de dor.
Uma
das criaturas desferiu uma mordida certeira na coxa direita de Matheus
que quase desmaiou de tanta dor. Olhou a criatura segurando sua perna.
Sua consciência falhou, quase apagou novamente com a visão que teve. A
criatura soltou sua perna. A dor era insuportável. Agora sim era o fim.
– Acorda Matheus! Acorda seu preguiçoso!
Matheus
levantou o corpo de repente. Sua cabeça girou ao abrir os olhos. A luz
do quarto o fez levar a mão aos olhos. Estava assustado, no chão, todo
suado. Olhava de um lado para outro, procurando pelas criaturas que lhe
atacavam.
Lúcia segurou a cabeça do irmão e olhou bem nos olhos, com um sorriso de gozação no rosto.
– Você estava tendo um pesadelo irmãozinho, e bem feio,
pelo jeito. Até caiu da cama. Vamos, tome um banho, a mamãe já colocou o
café da manhã, e você sabe como ela fica brava, quando atrasamos.
O
garoto jogou o corpo ao chão novamente. Estava aliviado, mas a sensação
de que tudo aquilo não tinha sido um pesadelo ainda o atormentava. Não
era a primeira vez que teve um pesadelo assim, apesar desse ter sido o pior de todos. Já fazia alguns meses que eles o perseguiam. Mas hoje foi diferente. Foi algo incrivelmente real.
Após tomar um banho rápido, colocou uma roupa qualquer e desceu. Tudo estava em silêncio, lá em baixo. Ao chegar na cozinha …
–
SURPRESA! Feliz aniversário Matheus! – Seus pais e as duas irmãs
estavam reunidos, em volta da mesa do café. Um bolo, com velinhas
coloridas, a mesa, e a cantoria de parabéns começou. Alguns minutos
depois, todos já haviam devorado suas fatias de bolo e já saiam para
trabalhar.
Sentado,
pensativo, Matheus levou a mão à sua coxa direita. Estava formigando,
um pouco dormente. Alguns segundos depois, pequenas pontadas começaram
na mesma região. O garoto levantou a bermuda e ficou branco, com a
visão. Inúmeras cicatrizes percorriam a região, onde a criatura de seu
pesadelo mordera.
A
dor ficou mais forte. Matheus começou a suar frio novamente. Todas as
imagens daquele pesadelo vinham fortes em sua mente. Podia sentir os
cheiros, lembrar cada detalhe daquela perseguição horrível. Uma dor
insuportável atingiu seu peito, sentia seu tórax afundar em seu corpo,
sentia novamente seus ossos quebrando. Foi ao chão, derrubando cadeiras e
tudo o que estava em cima da mesa do café. Seria agora o fim? Ali, na
cozinha de sua casa, sem nenhuma criatura o perseguindo, sem nenhuma
ajuda de seus familiares?
–
Desperte Matheus! Desperte agora garoto! – Novamente aquela voz
feminina ecoou em sua mente. Agora mais nítida, clara, mais real! A voz
era extremamente bela e delicada, trazendo um certo conforto ao seu
sofrimento, mas não podia negar, definitivamente, aquilo não foi um pesadelo!
====================================SOBRE O AUTOR DEBUTANTE
TIAGO CASTRO
Designer Gráfico, estudante de Comunicação, blogueiro e aspirante a
escritor de Literatura Fantástica, em 2007, criou o Blog Insônia onde
escreve artigos, resenhas e matérias sobre literatura, quadrinhos,
cinema e cultura pop em geral.
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