O
pai ficou contente, mas a madrasta, não. Mandou as duas crianças
dormirem e trancou a porta do quarto. Aquela mulher tinha uma essência
perversa e já havia tentado se livrar das duas pestinhas, sem sucesso.
Não sabia como os dois tinham conseguido retornar, mas dessa vez seria
diferente. No dia seguinte, iria levá-los mais longe, floresta adentro
e, certamente, elas se perderiam.
João
ouviu a madrasta, novamente, tentar convencer seu pai a abandoná-los.
Aquela mulher era cruel e ardilosa. Certamente, cedo ou tarde, ele
acabaria cedendo. O garoto tentou apanhar as pedrinhas salvadoras que
haviam ajudado a ele e sua irmã Maria a encontrarem o caminho de volta
quando, foram abandonados pela madrasta da última vez, mas não
conseguiu. A porta fora trancada. Desesperada, a pequena Maria chorou.
João pediu-lhe para ficar calma e ter fé, que tudo iria se resolver. Por
fim, cansados, os dois acabaram dormindo.
O
dia não tardou a nascer, e seu pai partira para o trabalho, deixando,
novamente, os filhos aos cuidados da megera que maquinava suas maldades,
com o objetivo claro de se livrar deles. Destrancando a porta do
quarto, fez com que os dois se levantassem e se preparassem para o
passeio que iriam realizar, alegando que iam colher algumas frutas.
Meio
sonolentos, João e Maria obedeceram e, antes de saírem, receberam, cada
um, um pedaço de pão velho. Com fome, Maria comeu-o enquanto seu irmão
resolveu guardar o seu, já imaginando uma forma de marcar o caminho de
volta, tal qual fizera com as pedrinhas milagrosas, agora fora de seu
alcance.
Não
demorou muito para que os três iniciassem o passeio, penetrando fundo
na floresta. Caminharam por muito tempo até que a madrasta parou em uma
clareira, sem perceber que João havia utilizado pequenos pedaços de pão
para marcar o caminho.
– Fiquem aqui que vou colher algumas frutas por ali e já volto! – disse a megera, afastando-se – Esperem-me aqui!
E
os dois esperaram em vão. Ela não mais voltou, deixando-os sozinhos na
floresta, como das outras vezes, só que agora, numa região completamente
estranha e ameaçadora.
–
Não chore Maria! – disse João, assim que a irmã começou a chorar – Só
temos que seguir a trilha de migalhas de pão que eu fiz até aqui!
Um
sorriso surgiu nos lábios da menina ao ver a pequena trilha e os irmãos
começaram a caminhar, iniciando a volta para casa. Satisfeito, João
imaginava as divercidade de expressões de sua madrasta quando os vissem
chegando. Andaram até chegarem num ponto onde encontraram alguns
passarinhos comendo, tranqüilamente, a trilha de migalhas.
Perdidas
na floresta e sem ter como encontrar o caminho de volta, andaram muito,
penetrando, sem saber, ainda mais na floresta. Passaram por ravinas e
trilhas estreitas, onde as árvores cresciam em encostas rochosas. Já
estavam quase que completamente exaustos quando, de repente, surgiu uma
clareira na mata, ocupada por uma casa estranha.
– É uma casa feita de doces! – disse Maria, de olhos arregalados.
João,
mais desconfiado, estranhou aquilo. Onde já se ouvira falar de casa
feita de doces? Maria avançou, mas foi detida pelo irmão que segurava
sua mão.
– Que foi? – perguntou a menina.
– Isso é muito esquisito! – disse João, olhando ao redor.
Nesse
instante, a porta da frente da casa se abriu e uma velhinha saiu,
carregando um gato preto no colo. Viram a senhora repreender o animal
por alguma coisa que havia feito e colocá-lo no chão, proibindo-o de
entrar na casa, enquanto os dois permaneciam parados. Avistando as
crianças, a velhinha sorriu.
– Venham, crianças! – convidou – Entrem, entrem. Lá dentro tem uns biscoitinhos que acabaram de sair do forno!
João,
ainda desconfiado, resistiu, num primeiro momento, mas a fome e a
insistência de sua irmã o fez correr em direção a casa. Assim que
estavam dentro da morada da velha, perceberam que a casa não era feita
de doces. Dentro era tudo antigo e assustador e um imenso caldeirão
encontrava-se acomodado bem no meio do recinto. As duas crianças
escutaram a porta se fechar, enquanto o medo parecia querer tomar conta
dos dois. Mas, com uma voz meiga e tranqüilizadora, a velhinha apanhou
os biscoitos e os serviu para João e Maria. Famintos, os dois comeram e
beberam o leite fresquinho, que foi dado numa caneca mal feita. Comeram
tanto que acabaram caindo no sono, em umas camas que a meiga senhora
lhes preparara, prometendo que, no dia seguinte, iria ajudá-los a
encontrarem sua casa.
Quando
as crianças acordaram, acharam que estavam no inferno. João e Maria
encontravam-se dentro de uma gaiola. Sem entender o que estava
acontecendo, viram a velha aproximar-se, com um sorriso de satisfação
nos lábios.
– O que vai fazer com a gente? – perguntou Maria.
– Crianças curiosas! – disse a velha – Eu sou a Bruxa da Floresta! E estou com fome!
A Bruxa agachou próximo das grades, ficando na mesma altura das crianças.
– E vocês serão meu prato principal!
* * * * *
A
madrasta caminhou mais um pouquinho tendo certeza de que estava
chegando ao seu destino. Para uma pessoa que não conhecia o lugar,
certamente se perderia, mas não ela. Crescera naquela região e não se
perderia na floresta. Tinha certeza que finalmente conseguira se livrar
das malditas crianças, mas caminhou mais um pouco. Desta vez iria
certificar-se de que tudo correra como esperava. Chegou a uma clareira
onde avistou uma estranha casa que parecia ser feita de doces. Caminhou
devagar até a porta e bateu duas vezes. O dia estava chegando ao fim e o
sol começava a se por. Da chaminé, podia-se ver a fumaça subindo
lentamente e o cheiro gostoso de assado começava a impregnar o ambiente.
Não demorou muito para que a porta se abrisse e uma velhinha sorriu
para ela, assim que a viu.
–
Seja bem vinda, minha filha! Deve estar cansada! – disse solicita –
Estou com dois assados especiais no fogo, quase prontos! Quer ficar para
o jantar?
– Claro! – respondeu a madrasta, adentrando a casa.
Assim que avistou a carne no rolete, sobre o fogo, e reconheceu as roupas usadas por João e Maria, jogadas no canto, sorriu.
– Sem dúvida nenhuma, é um belo jantar, Mãe! – disse a madrasta.
– Obrigado, filha! Sabia que ia gostar!
FIM
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