4h53min.
180km
por hora. A estrada quase não tinha iluminação. Os carros que me
perseguiam estavam atirando nos meus pneus. Adoro essa vida… acionei o
botão da metralhadora traseira e acabei com um dos carros, mas ainda
faltava um. Logo na frente, vejo um pequeno cachorro atravessando a
estrada, fazendo um caminhão ficar fora de controle. Eu consigo desviar a
tempo, porém o carro que me perseguia, não teve a mesma sorte. Foi uma grande explosão.
Abri a porta do carro e deixei o cachorrinho entrar. Ele estava assustado. Eu devia essa pra ele, afinal, salvou meu dia.
Cheguei
no bar na hora marcada. Todas as garotas olhavam pra mim, como se eu
fosse a recompensa daquela noite solitária. Uma garota me beijou na
boca, com dois martinis, e eu aceitei. Ela apontou para uma mesa, que
tinha uma mulher, a reconheci de cara. Seu nome era Jéssica Star. O nome
não era pra menos, seus olhos brilhavam, como uma estrela.
- Jonas Krane. O maior agente da rainha, em um barzinho de segunda? Seus gostos mudaram.
- Seus olhos continuam o mesmo, Star. Como as estrelas, você tem brilho próprio.
- Vamos parar com a troca de elogios. Por que me chamou?
- Sem essa Star. Acabei de ser perseguido por dois homens da CIA. Pelo que eu saiba, não estou sendo caçado pela sua agência, por isso estou aqui. Quero saber o que seus homens querem comigo.
Joguei as duas identidades que peguei dos homens mortos.
- Jonas… não estamos sabendo disso. Essas identidades são de homens mortos, há mais de 10 anos.
- Então estão me usando para acabar com a CIA?
- Eu diria que é algo maior, Jonas. Tome cuidado.
Eu me aproximei, beijei a boca da Star e disse.
- Você é meu único perigo.
11h30min. – No Serviço Secreto.
Meu
chefe, como sempre, não olhava para minha cara. Apenas para a papelada
na mesa. Sentei e esperei que falasse comigo. Ele me entregou uma pasta
para a próxima missão. Olho o documento e vejo a foto de um
caminhoneiro.
- Isso mesmo, Jonas, este é o alvo. O caminhoneiro tem a chave para a destruição deste mundo, e você deve eliminá-lo.
- Mas senhor, ele é só um caminhoneiro…
O chefe se levantou e bateu na mesa.
-
Não discuta minhas ordens. Este caminhoneiro foi quem você viu ontem,
desgovernado na estrada. Ele está vivo e em coma, viu tudo que fizemos. A
perseguição do carro da CIA com o nosso. Certamente, ele sabe as placas
dos carros, e irá nos reconhecer. Você sabe que não precisamos de uma
terceira guerra, principalmente EUA X Inglaterra. Sem falar na vida de
um inocente, que colocamos em perigo. O que o governo do nosso país
diria? Seu dever, como melhor espião do Serviço, é aceitar esta missão e
nada mais, sem comentários, sem direito às explicações. É assim que é.
Eu pego os papéis e carrego comigo, em direção a porta, mas ele ainda fala mais.
- Mais uma coisa, Jonas. Qual é sua relação com a Srta. Jéssica Star?
- É um interrogatório, Senhor?
- Apenas uma pergunta.
- Se é assim, aceito a missão, sem comentários.
Saio da sala batendo a porta, com toda a força, e fico escutando meu chefe gritando como louco, na sala.
15h20min. – No hospital, onde a vítima esta internada.
O
quarto se acha vigiado por agentes da CIA e da polícia local,
deixando-me, apenas, a possibilidade de entrar pela janela, algo
relativamente fácil. Estou ali para matar um inocente em coma. Não era
bem o que eu queria, na minha ficha de espião. Mas era minha missão. O
homem estava praticamente amarrado, com tantos aparelhos em sua volta.
Era gordo e careca. Jamais chegou a ter uma vida parecida com a minha.
Olhei-o bem perto e o chamei de pobre coitado.
Jéssica abre a porta do armário e aponta a uma arma para a minha cabeça.
– Largue a arma, Jonas.
Joguei a arma no chão e disse-lhe:
- Jéssica, não se meta.
-
Papo furado, Jonas. Você é quem não deve se meter. Isso poderá acabar
com o nosso mundo. Não entende? Se você matá-lo, jamais nos veremos de
novo. Você morre, eu morro, e nada mais será o mesmo.
- Mas de que diabo está falando?
Ela chega perto do caminhoneiro, apontando a arma pra mim.
-
Ele é mais do que parece. Ele é escritor, gosta de contar histórias
para as pessoas. Ele não é casado, mas é graças a esta solidão, que se
dedica a fazer boas histórias.
- Como o conhece tão bem?
- Estou falando disso.
Ela
aperta a agulha do soro que está no braço do caminhoneiro, e eu sinto
tudo. Sinto uma dor no braço tão grande, que caio no chão.
- Pare com isso. Pare, seja lá o que estiver fazendo.
- Você entende o que estou falando? Sentiu a verdade.
-
O caminhão, o cachorro na estrada. Droga. não consegui controlar o
caminhão. Mas do que estou falando? Não… não. Não quero acreditar. Eu
sou bonito agora, sou o maior espião do mundo… sou…
-
Um sonho. – disse Jéssica me abraçando. – Todos somos. Criados por este
homem, que você diz ser um pobre coitado, entende? Se você matá-lo,
estará matando a todos nós, pois estamos dentro dele, dentro
de seus pensamentos, seus sonhos. Você precisa voltar, voltar do coma.
Acordar. Só assim, nosso mundo vai continuar existindo.
Olhei para meu corpo e vi que já não era mais Jonas Krane; estava com a mesma forma do corpo em coma.
- Veja… veja como eu sou. Você gosta do que vê?
- Eu te amo Jonas, pois sei como você é por dentro. Sei como pensa. É graças a você, que existo.
Eu me aproximo do corpo deitado e, antes de voltar do coma, olho para Jéssica. Ela sorri e diz:
- Estarei sempre com você. Nunca deixe de sonhar comigo.
18h00min – O jornal informa.
-
O caminhoneiro que perdeu o controle do caminhão, por causa de um
cachorrinho na estrada, sai do coma, depois de 15 dias. Em entrevista
exclusiva, diz que irá fazer um livro, contando tudo sobre sua última
missão.
FIM
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